quarta-feira, 31 de março de 2010

As Cidades Invisíveis


As Cidades Invisíveis (no original, Le Città Invisibili) pertencem ao campo surrealista. O livro é estruturado como uma colectânea de 55 mini-contos matematicamente intitulados e enquadrados por fragmentos de conversas entre Marco Polo e Kublai Kan. A história que o sobrevoa e lhe serve de pretexto trata dos relatórios que Polo faz ao rei dos mongóis sobre as cidades que visita nas suas viagens pelo grande império do Kan. Mas, na realidade, o objectivo de Calvino é traçar-nos o retrato de uma série de cidades exemplares, e como tal fantásticas, perdidas num limbo espaço-temporal onde os bazares e as rotas de caravanas se cruzam com problemas de tráfego e arranha-céus, cada uma com uma característica que a marca e distingue (e que se reflecte no título do mini-conto respectivo), e todas com nomes femininos, chegando por vezes a assaltar-nos a dúvida se Calvino não estará no fundo a falar de mulheres e não de cidades.

As Ligações Perigosas


As Ligações Perigosas é um romance em que mais do que a paixão se descreve o fingimento. A sua forma é a da correspondência trocada entre diversas personagens, alternando o espírito libertino e a candura, a sedução e a vertigem. O seu autor, Choderlos de Laclos, nasceu em Amiens, em Outubro de 1741. Foi militar de carreira e atingiu o posto de general pouco antes de morrer, em 1800. Escreveu As Ligações Perigosas quando estava aquartelado na Ilha de Ré e decidiu contar uma história que «ressoasse ainda na terra depois de por ela ter passado». Os privilegiados, disse Vailland, «não lhe perdoaram ter sido um revolucionário e os revolucionários inquietaram-se ao vê-lo tão bem informado dos prazeres dos privilegiados».

As Regras da Sedução

As regras dele vão iniciá-la no mundo do prazer e da sensualidade. As regras dela vão subjugá-lo.

Hayden chega sem aviso e sem ser convidado - um estranho com motivações secretas e um forte carisma. Em poucas horas, Alexia Welbourne vê a sua vida mudar irremediavelmente. A relação entre ambos é tensa, agitada e incómoda. Para Alexia, Hayden é o culpado da sua desventura: sem dote, ela perdeu qualquer esperança de algum dia se casar. Mas tudo muda quando Hayden lhe rouba a inocência num acto impulsivo de paixão. As regras da sociedade obrigam-na a casar com o homem que arruinou a sua família. O que ela desconhece é que o seu autoritário e sensual marido é movido por uma intenção oculta e carrega consigo uma pesada dívida de honra. Para a poder pagar, ele arriscará tudo... excepto a mulher, que começa a jogar segundo as suas próprias regras…

A Torre do Desassossego

PRÉMIO PULITZER 2007

Prémio LA Times para obras de História
Prémio Bernstein 2007 por excelência em Jornalismo Um relato que nos leva aos bastidores da Al-Qaeda e que alarga e aprofunda o nosso conhecimento sobre o 11 de Setembro

Um relato histórico avassalador dos acontecimentos que levaram ao 11 de Setembro, uma perspectiva inovadora sobre as pessoas e as ideias, os planos terroristas e os falhanços dos serviços secretos ocidentais, que culminaram no ataque aos Estados Unidos. Este livro notável de Lawrence Wright fundamenta se em cinco anos de pesquisa e centenas de entrevistas efectuadas pelo autor no Egipto, Arábia Saudita, Paquistão, Afeganistão, Sudão, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha e Estados Unidos.
A Torre do Desassossego atinge um nível de intimidade e de aprofundamento dos factos sem precedentes, ao tecer a história entrecruzando os fios das vidas de quatro homens: os líderes da Al Qaeda, Osama bin Laden e Ayman al Zawahiri, o chefe da Divisão de Contraterrorismo do FBI, John O’Neill, e o antigo responsável máximo dos serviços secretos sauditas, o príncipe Turki al Faisal.
Brilhantemente concebido e escrito, A Torre do Desassossego congrega todos os elementos da história numa narrativa estimulante que enriquece de forma incomensurável a nossa compreensão das causas e mecanismos pelos quais chegámos ao 11 de Setembro de 2001. A riqueza das novas informações e a profundidade das análises contidas neste livro podem ajudar nos a lidar de forma mais madura e eficaz com a contínua ameaça terrorista.

Viagens na Minha Terra

Viagens na Minha Terra é um livro da autoria de Almeida Garrett; obra na qual se misturam o estilo digressivo da viagem real (que o autor fez de Lisboa a Santarém) e a narração novelesca em torno de Carlos, Frei Dinis e Joaninha.
O livro Viagens na Minha Terra, publicado em volume em 1846, é o ponto de arranque da moderna prosa literária portuguesa: pela mistura de estilos e de géneros, pelo cruzamento de uma linguagem ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, pelo tom oralizante do narrador, Garrett libertou o discurso da pesada tradição clássica, antecipando o melhor que a este nível havia de realizar Eça de Queirós.
Mas a obra vale também pela análise da situação política e social do país e pela simbologia que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho, absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.

Sonetos Completos

A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:

A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;

A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;

E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.

A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio da acção e da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na obra madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma sequência cronológica de três fases.Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos, considerados por muitos críticos uns dos melhores da língua e comparados aos de Camões e aos de Bocage. Há, na verdade, alguns pontos de contacto estilísticos e temáticos entre esses três poetas: os sonetos de Antero têm inegável sabor clássico, quer na adjectivação e na musicalidade equilibrada, quer na análise de questões universais que afligem o homem.

Rosa Brava


Em 1368, D. Leonor Teles de Menezes, a mulher mais desejada do Reino, casa com o morgado de Pombeiro, D. João Lourenço da Cunha. O matrimónio é imposto por seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos. Mulher fora do tempo, aceita contrariada o casamento, que a melancolia da vida do campo não ajuda a ultrapassar. Por isso, decide abandonar o marido e parte para Lisboa, para gozar a vida de riqueza e luxúria que a Corte proporciona. Perversa e ambiciosa, não tem dificuldade em seduzir o jovem monarca, D. Fernando, alcançando, desse modo, o poder que sempre desejou. Mas a nobreza, o clero e o povo não veêm com bons olhos esta aliança de adultério com o Rei. E menos ainda quando a formosa Leonor Teles se envolve com o conde Andeiro... "Rosa Brava" é um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela, reinventa, numa linguagem cativante, uma das personagens mais fascinantes da História de Portugal.

Pessoas Como Nós


Nem todos os homens têm coração, mas há mulheres que também não. O que pode separar duas irmãs? Como se perde uma grande amizade? Três mulheres entregues à solidão contam a sua história e acabam por revelar os segredos mais surpreendentes. Maria do Carmo não é o que parece, Verónica descobre o impensável e Julieta carrega a culpa de um violento e sórdido trauma.
Afinal, todas as pessoas são normais até as conhecermos melhor. "Pessoas como nós" é o quinto romance de uma das autoras portuguesas que mais contribuiu para a descoberta do prazer da leitura.

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Jorge Amado escreveu O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá em 1948, para o seu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade. O texto andou perdido, e só em 1978 conheceu a sua primeira edição, depoi de ter sido recuperado pelo filho e levado a Carybé para ilustrar. Com ilustrações belíssimas, para um belíssimo texto, a história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá continua a correr mundo fazendo as delícias de leitores de todas as idades.

No Meio do Nosso Caminho


"No meio do nosso caminho", como ficou escrito desde que Dante escreveu A Divina Comédia, é a passagem pelo Purgatório. A meio da nossa vida, já exaustos e a sentirmo-nos assaz espancados e desiludidos, não sabemos onde estamos, quando acaba a expiação dos nossos pecados e, sobretudo, não fazemos ideia do que é que vem a seguir. Tantas histórias que todos conhecemos tão bem.
O que é que sentem realmente os homens que nunca falam? O que é que é mesmo verdade nas conversas das mulheres, que já nem conseguem parar de falar? Para onde é que foi o mundo onde sonhámos que havíamos de estar a viver quando chegássemos a esta idade? Alguém terá, alguma vez, conseguido constituir um verdadeiro casal feliz, digno e sereno na sua aliança? Ainda sobrevive alguém que saiba mesmo o que é a tranquilidade? Mães solteiras, pais de domingo, pessoas que acima de tudo se sentem completamente sozinhas neste mundo, mas ainda não desistiram de dar uma qualquer forma de sentido à segunda metade das suas vidas: somos nós.

L. Ville


Só os anúncios publicitários transmitem a ideia de uma cidade feliz. E o detective Manuel da Rosa sabe disso. A sua rotina de viagens nocturnas pela cidade termina quando um comerciante de arte, Ernesto Ávila, aparece morto. À medida que o detective vai conhecendo melhor o misterioso passado do morto, um homem que não gostava de ser conhecido, recorda-se do tempo em que ele próprio tentava esquecer a sua identidade. E a pensar na sua relação com Ana Moreno. Tudo se complica com a chegada da fascinante e enigmática, Susana Wong. Ela pode ser a explicação de tudo. Até da razão porque é cada vez mais difícil saber onde está a verdade e onde está a mentira.

Haxe


Uma família normal em que o pai, um liberal dos anos sessenta, resolve dar haxe ao filho e fumar com ele, convencido de que assim o "solta" mais porque o filho é um marrão muito atado com as raparigas. O resultado é que, a partir daí, a vida do filho vai por água abaixo, arrastando com ele toda a família.
No livro fica a perceber-se que o haxe contém hoje em dia substâncias muito mais viciantes do que antigamente, ou seja, já não é apenas uma droga recreativa.
Haxe, cujos capítulos parecem dividir-se em sequências, foi escrito com o realismo e a rapidez de acção próprias do cinema; as personagens parecem saltar do papel e encarnar ao nosso lado, conseguimos sentir-lhes tanto o cheiro como o desespero. Ao ler o livro, o leitor poderá respirar fundo nalguns momentos de humor e de ternura, mas a vertiginosa metamorfose dos heróis em anti-heróis deixá-lo-á sem fôlego.
No entanto, esta é acima de tudo uma história para dar que pensar: por ser baseada em factos verídicos, por fazer vacilar os alicerces de algumas crenças liberalizantes e por denunciar as posturas geracionais que não resistem aos dias de hoje.

Fim de Império


A partir das rememorações de um médico enviado para o norte de Angola, nos últimos anos da década de sessenta, desenha-se aqui um romance de formação (literária e amorosa) em que, sobre o fundo misterioso de África, assistimos ao confronto do protagonista com as experiências da guerra, por um lado, e com a realidade de Luanda, onde vai de quando em quando. Repartido em duas personagens - Nicolau, que o projecta naquele tempo, e Aónio, que o reflecte na actualidade -, o narrador é de certo modo um símbolo de toda uma geração portuguesa.
Em Fim de Império, o leitor encontrará o cenário de uma guerra lenta e imprevisível, travada por um exército desiludido, em que se anuncia já a revolução do 25 de Abril.

Eu, Carolina


«Apesar de não ter ainda trinta anos, a minha experiência de vida já é longa.»

É desta forma que Carolina Salgado se apresenta aos seus leitores.
Mais do que uma autobiografia, este livro é um testemunho pessoal, desassombrado, de uma franqueza surpreendente, sobre a vida de uma mulher independente e apaixonada, sobre os bastidores e meandros do futebol português, sobre a vida nocturna, sobre acontecimentos que conhecemos contados de outras maneiras.

Enquanto Salazar Dormia...

Lisboa, 1941. Um oásis de tranquilidade numa Europa fustigada pelos horrores da II Guerra Mundial. Os refugiados chegam aos milhares e Lisboa enche-se de milionários e actrizes, judeus e espiões. Portugal torna-se palco de uma guerra secreta que Salazar permite, mas vigia à distância.
Jack Gil Mascarenhas, um espião luso-britânico, tem por missão desmantelar as redes de espionagem nazis que actuavam por todo o país, do Estoril ao cabo de São Vicente, de Alfama à Ericeira. Estas são as suas memórias, contadas 50 anos mais tarde. Recorda os tempos que viveu numa Lisboa cheia de sol, de luz, de sombras e de amores. Jack Gil relembra as mulheres que amou; o sumptuoso ambiente que se vivia no Hotel Aviz, onde espiões se cruzavam com embaixadores e reis; os sinistros membros da polícia política de Salazar ou mesmo os taxistas da cidade. Um mundo secreto e oculto, onde as coisas aconteciam "enquanto Salazar dormia", como dizia ironicamente Michael, o grande amigo de Jack, também ele um espião do MI6. Num país dividido, os homens tornam-se mais duros e as mulheres mais disponíveis. Fervem intrigas e boatos, numa guerra suja e sofisticada, que transforma Portugal e os que aqui viveram nos anos 40.

Bichos

Escrito num registo peculiar marcado pelo recurso a um tom coloquial, a uma adjectivação específica e a diversas metáforas muito expressivas sobre uma realidade à qual se encontra intimamente ligado.
As personagens e a acção desta história têm um carácter profundamente humano com um tom dramático e até desesperado.

A Confissão de Lúcio

O conto A confissão de Lúcio é uma das obras mais importante de Mário de Sá-Carneiro porque contem três das suas obsessões dominantes: o suicídio, o amor pervertido e o anormal avançando até a loucura.
O conto narra a história de um triângulo - Lúcio, Marta, Ricardo - onde os estudiosos vêem em Ricardo o outro de Lúcio, e Marta a ponte de ligação entre eles.
Apresentada sob a forma de romance policial, a exemplo das novelas fantásticas de Edgar Poe, o conto inicia com uma breve introdução, em que o narrador, Lúcio, assumindo-se como autor, justifica o seu objectivo: confessar-se inocente após ter cumprido os dez anos de prisão a que fora condenado por assassínio de um amigo, Ricardo de Loureiro. O narrador promete dizer toda a verdade, "mesmo quando ela é inverossímil", sobre essa morte ocorrida em circunstâncias misteriosas e sem testemunhas, mas considerada judicialmente "crime passional".
Por ser um texto de vanguarda, já que o autor se empenhou na busca de novos significantes numa ruptura com o modelo centrado no código princípio-meio-fim, esta obra de ficção continua aberta a novos estudos.
É a narrativa que "para todos os efeitos" faz arrancar "o cânone contemporâneo, português e homossexual", segundo o crítico e escritor Eduardo Pitta, em "Fractura" (ed. Angelus Novus, 2003; pág. 12).

Impasse


Neste Impasse, edição da Macroplan, o próprio esclarece as razões do seu afastamento da Direcção do PSD, na sequência do voto a favor do partido, Sá Carneiro entendia que o partido se devia abster, à Lei da Reforma Agrária.

Beatriz Costa - Sem Papas na Língua


"Comecei a escrever por brincadeira em 62, no Brasil. Era uma forma de ocupar o tempo, porque eu tenho de estar sempre em actividade. Não posso estar aqui a estragar o veludo dos sofás… Um dia li um capítulo que tinha escrito à minha comadre Zélia Amado, mulher de Jorge Amado, e como ela me entusiasmou continuei a escrever. Andei quatro anos a dizer que ia publicar o livro, até que um dia me resolvi e o livro saiu mesmo."

Da entrevista de Gina de Freitas a Beatriz Costa, "Beatriz Costa - um mito que se mantém" in Jornal Extra , s.l., 22 de Dezembro 1977

Trincheira: Arte, Valentia e Tragédia

José Trincheira, matador de Vila Viçosa ( e de zebus em Angola) , tirou a alternativa em Cáceres, a 28 de Setembro de 1958, tendo como padrinho Cesar Giron. Um ano depois casa-se com "a cançonetista" Maria José Valério e a coisa não corre bem. O biógrafo de Trincheira, Rui Anjos *, dá a a seguinte explicação para o fracassso matrimonial: "O primeiro acto dessa má alternativa, que foi o seu casamento com Maria José Valério, sucede logo na noite de núpcias em que a noiva se furtou à consumação do acto matrimonial, nessa mesma noite, quando antes nunca o fizera. Desculpa para essa atitude: cansaço dos autógrafos dados no copo de água".
Pobre Trincheira, antes enfrentar um acoceador na arena...


* Rui Anjos, Trincheira: Arte , Valentia e Tragédia, Ed. Domingos Araújo, Mafra, 1977.

Os Maias

Trata-se da obra-prima de Eça de Queirós, publicada em 1888, e uma das mais importantes de toda a literatura narrativa portuguesa. Vale principalmente pela linguagem em que está escrita e pela fina ironia com que o autor define os caracteres e apresenta as situações. É um romance realista (e naturalista), onde não faltam o fatalismo, a análise social, as peripécias e a catástrofe próprias do enredo passional.
A obra ocupa-se da história de uma família (Maia) ao longo de três gerações, centrando-se depois na última geração e dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda. Mas a história é também um pretexto para o autor fazer uma crítica à situação decadente do país (a nível político e cultural) e à alta burguesia lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que configura a derrota e o desengano de todas as personagens.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A Queda dum Anjo

Uma das novelas mais célebres de Camilo Castelo Branco (publicada em 1866, no Porto) constitui uma notável caricatura da vida política nacional, mas também uma parábola humorística acerca do desvirtuamento do Portugal antigo.
O protagonista, Calisto Elói, um fidalgo transmontano, austero e conservador, é uma espécie de encarnação satírica desse Portugal: eleito deputado, Calisto vai viver para Lisboa, onde se deixa corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital, tomando por amante uma prima afastada, Ifigénia, e transitando da posição miguelista para o partido liberal no governo.
Ironicamente, a esposa de Calisto, Teodora, uma aldeã prosaica, imita-o na devassidão: vendo-se desprezada pelo marido, une-se a um primo interesseiro e sucumbe ela própria aos vícios da
modernidade.

A Ilustre Casa de Ramires

Nesta obra, Eça conta a história de Gonçalo Mendes Ramires, nas suas relações familiares, no seu convívio social, nos seus entusiasmos e nas suas inexplicáveis reacções.
O romance desenrola-se em dois planos que caminham paralelamente. Num, feito de idealismo, projecta-se o tradicionalismo romântico: romance histórico; no outro, com o sentido do realista, perpassa a vida contemporânea da província.
É evidente o contraste entre a nobreza dos feitos guerreiros do romance e a mesquinhez, bisbilhotice, da vida da província. O próprio estilo é diferente.

Lilaz Carriço, in Literatura Prática II, Porto Editora (adaptado)

A Cidade e as Serras é uma deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.

A Casa Quieta


"Segundo romance da lavra de Rodrigo Guedes de Carvalho. Um livro assombroso no modo como trata a palavra enquanto objecto estético e também desarmante em matéria de emoções. Não há que ter medo das palavras, temos Escritor com maiúscula!"
PTN, Magazine Artes, Julho/Agosto 2005"Um belo romance, este de Rodrigo Guedes de Carvalho. Um texto imaginativo, elaborado, que se percebe ser escrito com gosto e problematizado com pensamento vigilante, ligado ao quotidiano por vivências e emoções que revelam a intimidade preciosa do sentir possível a cada um de nós. (...) Rodrigo Guedes de Carvalho surge verdadeiramente como um romancista, encadeia intrigas, entrelaça histórias, exibe um ateia de ficção coesa e intrigante mas com uma simplicidade que seduz o leitor."

Maria Alzira Seixo, Jornal de Letras, 30 Agosto de 2005

A Arma dos Juízes

Quase 20 anos passados sobre a publicação de Adeus, Princesa (talvez o maior êxito de Clara Pinto Correia, e que Jorge Paixão da Costa transpôs para o cinema), a autora transportou para os arredores de Lisboa nos dias de hoje os protagonistas daquele livro, as personagens de Bárbara Emília, Joaquim Peixoto e Sebastião Curto. O novo livro da escritora (e bióloga, e professora universitária, e colaboradora da revista Visão, e autora de programas televisivos), o 34º na sua bibliografia, passa-se nos subúrbios de uma cidade que cresceu de forma desordenada, cheia de prédios que mais parecem caixotes ou jaulas a que se regressa após um dia de trabalho, para passar a noite a olhar para outro caixote, a televisão, numa sociedade em que as pessoas não conseguem ser felizes nem sequer já têm o sonho da felicidade, e se viram para os medicamentos como escape mais fácil de uma vida que não sabem, ou não podem, construir. Como disse CPC em entrevista ao JL (6.3.02): “Se com o ‘Adeus, Princesa’ o pano social de fundo era o princípio do esfarelar do sonho comunista no Alentejo, agora será a degradação da qualidade de vida das pessoas e a degeneração completa dos sentidos todos.” E acrescenta: “ (Espero com este meu livro) pôr as pessoas a pensar em coisas sobre as quais elas tendem a andar distraídas.” A “Arma dos Juízes” é ao mesmo tempo um thriller policial, onde corre uma investigação, onde se fala da corrupção e do tráfico de influências, escrito num tom vivo e coloquial.