quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mã, Ele Vendeu-me Por uns Cigarros

Filha ilegítima de mãe adolescente, nascida nos bairros degradados da Dublin dos anos 50, Martha vê-se obrigada a ser uma lutadora desde o princípio. Enquanto a mãe vai mudando de homem, e vão surgindo mais crianças, eles vivem na pobreza em casas miseráveis e geladas, vestidos com farrapos e forçados a mendigar por comida. Contudo, precisamente quando as coisas pareciam não poder ser piores, a mãe conhece jackser. Apesar das provações, Martha é uma criança com um espírito indominável e uma argúcia muito para além da sua idade. Ela narra a história da sua infância sem pingo de auto-comiseração e consegue recrear uma era perdida na qual a sombra da Igreja Católica estava perigosamente próxima e se não se trabalhasse não se comia. Martha nunca deixa de acreditar que merece mais do que o que lhe foi dado, e a sua notável voz permanecerá consigo muito depois de ter finalizado a última linha.

Alice no País das Maravilhas

Há aventuras que nos transformam, mas o caso de Alice é verdadeiramente especial: a partir do momento em que descemos com ela pelo buraco dum coelho, deixamos mesmo de saber o que nos espera ao virar de cada página. E cada leitura que fazemos desta obra verdadeiramente clássica é sempre um espelho onde vemos como nos transformámos desde a última leitura: onde crescemos e onde encolhemos, em que lado do cogumelo precisaremos de acertar para voltarmos a ter uma altura… aceitável. Uma leitura à altura de Alice: dos poucos centímetros aos muitos metros, dos 8 aos 80 anos. Dizer que Alice no País das Maravilhas é uma obra-prima não chega: esta obra de Lewis Carroll, nascida de uma brincadeira de crianças numa tarde de Verão de há quase 150 anos, foi traduzida para todas as línguas, contada, adaptada e readaptada a todas as formas artísticas, e continua a fascinar-nos todos os dias por razões que ultrapassam em muito a estética literária. Como resumirá José Vaz Pereira no prefácio a esta edição: «Alice é para a vida». Boas leituras!

Cândido

Cândido foi pela primeira vez publicado em 1759. Sabendo à partida que o livro seria proibido, Voltaire optou por uma edição clandestina que rapidamente atingiria níveis de vendas extraordinários para a época. Seguir-se-iam centenas, senão milhares, de edições ao longo dos séculos XIX e XX. Cândido é um jovem criado por Pangloss, seu preceptor, que lhe dá da vida a visão optimista de que todos vivem no melhor dos mundos. Mas após várias atribulações, Cândido desencanta-se, desacreditando-se da tese do seu mestre. Esta alegoria irónica é um pretexto para Voltaire denunciar as diferenças sociais, os idealismos exacerbados e a corrupção, monstro que ainda hoje consome as sociedades.

Werther

«Werther» representa uma das obras mais emblemáticas, precursora do Romantismo, na referência de todo o enamoramento sem esperança. O jovem Werther sofre, desespera e descreve o seu amor impossível pela mulher que não consegue alcançar. Novela trágica e confessional por excelência, identifica o seu jovem autor, Johan Wolfgang von Goethe (1749-1832), logo aos 23 anos, como um dos grandes representantes da literatura do Romantismo.

Ninguém Escreve ao Coronel

Publicado pela primeira vez em 1961, Ninguém Escreve ao Coronel é o segundo romance de Gabriel García Márquez, escrito durante a sua estada em Paris, onde trabalhava como correspondente de imprensa desde meados dos anos 50. Num estilo puro e transparente, com uma economia expressiva excepcional que marcava já o seu futuro como escritor, García Márquez narra com brilho inaudito a história de uma injustiça e violência: um pobre coronel reformado vai ao porto esperar, todas as sextas-feiras, a chegada de uma carta oficial que responda à justa reclamação dos seus direitos por serviços prestados à pátria. Mas a pátria permanece muda…

Lolita

Esta é uma das obras mais conhecidas e controversas do século XX e conta a história de Humbert Humbert, um professor universitário enfadonho e de meia-idade. A sua obsessão por Lolita de 12 anos suscita algumas dúvidas relativamente ao seu carácter: estará ele apaixonado ou tratar-se-á de um louco? Um poeta eloquente ou um pervertido? Uma alma torturada e sofrida ou um monstro? Ou será que Humbert Humbert não será apenas uma mistura de todas estas personagens? Lolita é certamente o romance mais conhecido de Nabokov, mas também por se tratar de uma obra-prima que provocou, à data da sua publicação, um enorme escândalo pela forma como o autor tratava o tema de uma paixão entre um homem maduro e uma adolescente provocante. Hoje, que essa aura de escândalo parece ter-se dissipado, o livro, publicado originalmente em 1955, vale por aquilo que é: um verdadeiro clássico da literatura do século XX.

O Carteiro de Pablo Neruda

Mario Jiménez, jovem pescador, decide abandonar o seu ofício para se converter em carteiro da Ilha Negra, onde a única pessoa que recebe e envia correspondência é o poeta Pablo Neruda. Mario admira Neruda e espera pacientemente que algum dia o poeta lhe dedique um livro ou aconteça mais do que uma brevíssima troca de palavras ou o gesto ritual da gorjeta. O seu desejo ver-se-á finalmente realizado e entre os dois vai estabelecer-se uma relação muito peculiar. No entanto, a conturbada atmosfera que se vive no Chile daquela época precipitará um dramático desenlace… Através de uma história tão original como sedutora, Antonio Skármeta consegue traçar um intenso retrato da convulsa década de setenta no país andino, assim como uma recriação poética da vida de Pablo Neruda.